quinta-feira, 5 de abril de 2012

Fases do Cinema: Cinema Novo Brasileiro


Imagino que quem acompanha esta sessão “fases do cinema” deve se se perguntar : “Cinema francês, alemão americano... e o Brasil? Nunca houve uma movimento de vanguarda brasileiro digno de ser citado entre os mais importantes da história do cinema ?”. A resposta, segundo especialistas é que houve sim, e que entrou para a história com o nome de cinema novo brasileiro.
No final dos anos 1950, uma série de jovens ingressavam na vida cinematográfica, seja por meio da produção de curtas metragens, textos sobre cinema ou através da cultura de frequentar cine clubes. Mais tarde na década e 1960, os integrantes do movimento passaram a ser chamados de cinematovistas, seguindo o lema do movimento: “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”.
No começo da década de 1960 a maioria dos cinematovistas fizeram suas estreias na direção de longas metragens e se tornariam entusiastas do movimento. Entre eles Paulo César Saraceni, Leon Hirszman, Joaquim Pedro de Andrade, Carlos Diegues David Neves e Glauber Rocha, considerado o maior diretor do cinema novo.
Os filmes tratavam dos mais diversos temas sociais decorrentes do Brasil da época, entre eles a política, o futebol, a precariedade da educação, diferenças sociais e raciais mas principalmente, a miséria e a fome que assolavam boa parte dos brasileiros.  
Os principais filmes do período são Deus e o Diabo na Terra do Sol, Terra em Transe e O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro de Glauber Rocha; Maioria Absoluta e Garota de Ipanema de Leon Hirszman; Ganga Zumba, Rei dos Palmares, Os Herdeiros e A Grande Cidade de Carlos Diegues e finalmente O Desafio, Integração Racial e Capitu de Paulo César Saraceni. Desses, creio que alguns merecem uma análise particular.
Maurício do Valle como Antônio das Mortes em Deus e o Diabo na Terra do Sol (Glauber Rocha, 1964).
Alguns filmes da lista acima se destacam em relação à alguns temas, O Desafio por exemplo, mostrava a decepção de um jornalista logo após o golpe de estado que encerrou a democracia no pais. Também a deficiente educação da época foi abordada com coragem no documentário Maioria Absoluta, retratando que a população analfabeta no Brasil da época era o que o titulo sugere; o filme chegou a ter planos para uma sequência, que se chamaria Minoria Absoluta (desta vez sobre os universitários do Brasil), mais foi cancelado devida à pressão politica.
Cena de Maioria Absoluta (Hirszman,1964)
E finalmente, o mais conhecido filho do movimento, Deus e o Diabo na Terra do Sol, filme de Glauber Rocha que segue algumas das convenções do cinema novo como câmera na mão e locação real, além de exibir a chamada “estética da fome” criada por Rocha. Através de um enredo que se passa no sertão no nordeste por volta de 1930 e acompanha as desventuras do sertanejo Manuel, perseguido pelo jagunço Antonio das Mortes, o filme pretendia incomodar o expectador mostrando a miséria que o país reluta em negar que existe. Além de, como definiu o crítico Richard Pena: “O efeito final é a sensação de que o filme e o país retratado por ele estão a ponto de explodir. Talvez não seja surpreendente que, antes da conclusão (...) e de seu lançamento comercial, os militares brasileiros promoveram um golpe e estabeleceram um ditadura que duraria 20 anos”.      
             Por se tratar de um movimento de denúncia e crítica, a maioria dos filmes desagradou o regime militar vigente na maior parte da década de 1960, a maioria enfrentou problemas com censura ( para se ter uma ideia, Terra em Transe, filme com forte teor político, só foi lançado aqui após ser levado clandestinamente para o festival de Cannes). Após a decretação do ato institucional Numero 5, em 1968, a situação para os cineastas ficaria cada vez mais complicada, muitos, como Glauber Rocha, tiveram que enfrentar exilio. Não havia como o movimento proceder dessa forma, porém, suas realizações e suas ideias continuam ainda hoje servindo de inspiração para novos cineastas.